O DIVINO E O NÃO DIVINO
"Quando dizemos que tudo é uma manifestação divina, mesmo aquilo que chamamos de não divino, queremos dizer que em essência tudo é divino, mesmo se a forma nos desconcerta ou nos repugna. Ou, para expressá-lo em uma fórmula que nossa percepção psicológica aceite mais facilmente, em todas as coisas há uma presença, uma Realidade primordial – o Self, o Divino, o Brahman – que é para sempre pura, perfeita, beatífica, infinita: sua infinidade não é afetada pelas limitações das coisas relativas; sua pureza não é manchada por nosso pecado e nosso mal; sua beatitude não é tocada por nossa dor e sofrimento; sua perfeição não é alterada pelos defeitos de nossa consciência, de nosso conhecimento, de nossa vontade, pela falta de unidade. Em certas imagens dos Upanishads, o Purusha divino é descrito como o Fogo único que entrou em todas as formas e modela-se segundo cada uma, como o Sol único que ilumina tudo de modo imparcial e não é afetado pelos defeitos de nossa visão. Mas essa afirmação não é suficiente, não resolve o problema, porque aquilo que em si é sempre puro, perfeito, beatífico, infinito, deve não só aceitar, mas parece manter e encorajar em sua manifestação a imperfeição e limitação, impureza e sofrimento, falsidade e mal; essa afirmação expressa a dualidade que constitui o problema, mas não o resolve.
Se simplesmente deixarmos esses dois fatos discordantes da existência um em frente ao outro, seremos levamos a concluir que não há conciliação possível; temos só que nos agarrar o mais que pudermos ao sentido cada vez mais profundo da alegria da Presença pura e essencial e nos acomodar, o mais que pudermos, às discordâncias externas, até que possamos impor em lugar delas a lei dos seus divinos contrários. Ou então devemos buscar um escape, mais do que uma solução. Pois podemos dizer que só a Presença interior é uma Verdade e as discordâncias externas são uma falsidade ou uma ilusão criadas por um misterioso princípio de Ignorância; nosso problema seria encontrar algum modo de escapar da falsidade do mundo manifestado para aceder à verdade da Realidade escondida. Uma concentração interior exclusiva no Real, no Eterno, é possível, e mesmo uma imersão no self, que nos permite anular ou afastar as dissonâncias do universo. Mas há também, em algum lugar no mais profundo de nós mesmos, a necessidade de uma consciência total, há na Natureza uma busca universal e secreta do Divino em seu todo, um impulso em direção a uma percepção, deleite e poder de ser completos; essa necessidade de um ser inteiro, um conhecimento total, essa vontade integral em nós não é completamente satisfeita com essas soluções. Enquanto o mundo não nos for divinamente explicado, o Divino continuará imperfeitamente conhecido, pois o mundo também é Aquilo, e enquanto ele não estiver presente em nossa consciência e possuído pelos poderes de nossa consciência em uma percepção do ser divino, não possuiremos a Divindade completa". (SRI AUROBINDO, 1940, p. 365 - 367)
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